segunda-feira, 28 de março de 2011

CENI VAI DE RAÍ A PELÉ E CITA DEUS E MURICY EM ENTREVISTA MOVIDA POR CALOR E ADRENALINA


Rogério Ceni bate no peito e no símbolo do São Paulo após marcar seu 100º gol



Era o dia dele, a tarde dele. Fizera um gol histórico, seu 100º, conseguira defesas quase milagrosas e garantira a vitória do São Paulo por 2 a 1 sobre o Corinthians em resultado que encerrou um tabu de quatro anos. Não à toa, a entrevista coletiva de Rogério Ceni no último domingo seria uma das mais concorridas e até extensas do goleiro em sua carreira. Mesmo não se tratando de uma final, de uma decisão de título.
Antes, uma pausa para Paulo César Carpegiani falar sobre o jogo e, principalmente, sobre seu goleiro-artilheiro. Cerca de 20 minutos de entrevista do técnico. Porém, os jornalistas que lotavam a quente sala de imprensa, com cadeiras para cerca de 70 pessoas, queriam mesmo era conversar com Ceni.

Sai Carpegiani e entra Julio Cesar Casares, vice-presidente de comunicação e marketing do São Paulo. A camisa azul completamente molhada dava o tom da temperatura na Arena Barueri. “Está chovendo lá fora?”, brincou um repórter. E ele deu um sorriso. Em seguida, iniciou a campanha “Essa bem que podia virar a Arena Rogério Ceni”.
E eis que o goleiro que poderia dar nome a um estádio entrou na sala. Sem sinal, as placas de internet não funcionavam, o microfone falhava, os cinegrafistas e fotógrafos discutiam por uma imagem. O ritmo de todos estava acelerado.

Resolvidas as falhas técnicas, Ceni recebeu de Casares o kit comemorativo que o clube preparou aos fãs para celebrar os 100 gols do arqueiro. Depois, fez mais uma de suas rotineiras juras de amor à agremiação. “Agradeço a instituição São Paulo Futebol Clube, clube do meu coração, que será sempre memorável na minha vida, que mudou a minha vida”, afirmou.

Depois, a aguardada entrevista de fato começou. Aproximadamente 20 perguntas, a maioria delas feitas por jornalistas que estavam do lado esquerdo da sala. “Só vem pergunta da esquerda”, observou Ceni em determinado momento. “Ah, enfim alguém do meio”, completou logo em seguida. No final, ainda reparou: “Agora está até mais fresquinho aqui”. A adrenalina havia abaixado, a noite chegou, e a sala começou a se esvaziar aos poucos.

Confira abaixo trechos da entrevista e alguns dos nomes citados por Rogério Ceni ao longo de pouco mais de meia hora.

SOBRE JULIO CESAR, O GOLEIRO QUE SOFREU O 100º GOL

"É uma valorização para a minha marca fazer um gol contra um goleiro como ele [Julio Cesar (f)] e um time como o Corinthians. Hoje ele é uma realidade, um goleiro de ponta do futebol brasileiro, com titularidade indiscutível".

SOBRE O AMARELO LEVADO POR TIRAR A CAMISA NA COMEMORAÇÃO

"Eu passei por ele [árbitro Guilherne Cereta de Lima (f)] e falei 'Nunca tomei cartão por tirar a camisa, mas se o senhor quiser me dar, é seu direito, não é por ser um gol festivo que a regra tem que ser aplicada diferente'".

SOBRE O QUE MUDOU NA IMPRENSA DO 1º PARA O 100º GOL

"Antes era tão diferente, não existia internet, não tinha tantos canais especializados, eram poucos os repórteres, a gente falava na saída de campo, os repórteres podiam entrar em campo, era uma aproximação maior".

SOBRE MÁRIO SÉRGIO, TÉCNICO QUE O IMPEDIU DE COBRAR FALTAS

“Eu agradeço ao Mário, porque eu aprendi que eu preciso ter uma hierarquia dentro de uma empresa. Não foi bom pra mim, mas é importante aprender a entender os mais velhos, os que mandam no futebol”.

SOBRE OS TÉCNICOS QUE O INCENTIVARAM DURANTE A CARREIRA

“Teve muita gente importante, o Rojas, que foi um grande incentivador, o Muricy (f), que teve a personalidade de me autorizar a efetuar minha primeira cobrança, e muito mais gente que me ajudou, que foi exemplo pra mim”.

SOBRE A EMOÇÃO DO 100º GOL

"Na hora que deu a falta, eu fui com muita convicção, muito concentrado, e foi do jeito que eu imaginava. Em 15 de fevereiro de 1997 foi do mesmo lado, na mesma posição. E foi mais especial por isso, eu queria que fosse de falta. E foi num clássico, com grandes profissionais, um bom público. Eu não falo muito de Deus, eu acredito na dedicação e no trabalho, mas Deus escreve os momentos certos para que algumas coisas aconteçam. Nem em sonho eu conseguiria esse 100º gol de maneira tão plena".

SOBRE AS COMPARAÇÕES COM OS 1.000 GOLS DE ROMÁRIO E PELÉ

"Eu não pude servir o Exército [como Pelé, que conta alguns dos gols feitos quando estava nas Forças Armadas]. Logicamente que eu jamais conseguiria fazer os 1.000 gols de Pelé e Romário (f), mas esses 100 já são suficientes".

SOBRE SER O MAIOR ÍDOLO DA HISTÓRIA DO SÃO PAULO

"A história é muito complexa, temos gerações e gerações, como eu poderia me comparar a Raí (f), Pedro Rocha, Leônidas, tantos jogadores? Mas dentro da história que eu me propus a escrever, ficarei na memória de muita gente".

SOBRE NUNCA TER FEITO UM GOL PELA SELEÇÃO BRASILEIRA

"Na seleção eu bati uma única falta, num amistoso com a Colômbia, o zagueiro tirou a bola em cima da linha. E quando eu entrei 10 minutos na Copa do Mundo eu fiquei com vontade, mas ninguém caiu perto da área. Mas o São Paulo é a minha seleção. Aqui é minha casa, lá era um ponto de encontro".

SOBRE ESTAR PRÓXIMO DE CHEGAR A 1.000 JOGOS PELO SÃO PAULO

"Meu maior objetivo é ser campeão. Os 1.000 jogos chegarão e serão muito comemorados, porque só Pelé e Dinamite (f) alcançaram. Mas pra mim, o que vai valer muito é um titulo. O retorno à Libertadores é o meu objetivo".

SOBRE SER COMPARADO A PELÉ

"Eu sou melhor que o Pelé (f)... no gol. De resto, ele é melhor que eu". É então o Pelé do gol? "Não, eu sou o Rogério Ceni do gol".

SOBRE A EMOÇÃO DE AMIGOS E, PRINCIPALMENTE, DE TORCEDORES

"Eu não posso chorar, fiquei muito feliz no meu primeiro gol e tenho que continuar feliz. Me emociono porque algumas pessoas não podem ver esse gol, como minha mãe, que já se foi. Mas a gente faz a alegria de tanta gente, e isso é tão bom. Acabei de olhar no meu celular e tinha umas 27 mensagens de parentes, amigos. Fazer a felicidade para os outros é algo marcante, enobrece muito o dia de cada um. Ver o torcedor feliz é como ver teu filho feliz"
fonte: uol

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