segunda-feira, 9 de abril de 2012

JUVENAL JUVÊNCIO ESTRUTURA SÃO PAULO DO FUTURO



Por Ricardo Flaitt

A mídia de massa, como é compreensível do sistema de busca pela audiência, constrói e/ou potencializa os personagens do futebol.
Caricaturar tem seu lado engraçado e simpático, mas, geralmente, nos faz incorrer ao erro de não mais enxergarmos as grandes realizações do jogador ou dirigente de futebol.
Ou seja, resenhas são importantes para o mundo do futebol, devem existir, são legais, no entanto, não podem ofuscar as análises ou diminuir os feitos dos personagens em questão.
Um desses casos, em que a imagem do personagem criado passou a aparecer mais (porque vende mais, é mais polêmico) é a do presidente do São Paulo Juvenal Juvêncio.
Mas o fato é que, se deixarmos de lado o Juvenal folclórico, enxergaremos um profundo conhecedor de futebol e das questões administrativas que envolvem um clube de futebol.
Juvenal vem ampliando e fortalecendo a boa estrutura física do clube. Nesse sentido moderniza o Morumbi, com o projeto de cobertura do estádio; constrói hotel no CF de Cotia, dentre outras medidas.
Na parte imaterial (patrimônio não palpável), Juvenal mantém a tradição de um clube que sempre teve como marca a ponderação nas ações administrativas, fazendo prevalecer diretoria e comissões técnicas pensantes.
As questões são amplas, então, para compreender a estruturação positiva que Juvenal vem promovendo no SPFC vou evidenciar dois pontos, que sintetizam a política da nova diretoria: a reestruturação/reformulação do elenco profissional e a contratação de René Simões para a base.
1) REFORMULAÇÃO, COMPROMETIMENTO, CONFIANÇA E TEMPO
O São Paulo, que sempre primou pela estabilidade, em 2011, oscilou. O time era capenga em campo, faltavam jogadores de expressão, comando técnico e comprometimento com a camisa de um clube três vezes campeão das Américas e do Mundo.
Diante desse quadro, Juvenal não se omitiu. Identificou o problema e teve coragem de expô-lo publicamente. Em 25 de outubro de 2011, Juvenal inverteu acertadamente a lógica dos gramados, onde sempre se joga para a torcida, ao declarar que o problema no SPFC não era técnico, mas estava relacionado com um elenco não comprometido, pouco competitivo e, deste modo, mandaria embora boa parte do time para iniciar um novo ciclo.
E não só identificou os problemas, declarou à imprensa, ponderou com a diretoria e iniciou um processo de reengenharia com ações práticas.
Juntamente com os competentes diretores Adalberto Baptista e João Paulo de Jesus Lopes, Juvenal manteve Leão no comando, mandou meio time embora e contratou oito bons jogadores.
A diretoria deu um passo atrás. Pensou, traçou um projeto e fez prevalecer a razão não cedendo à pressão passional da torcida.
Em suas declarações demonstravam que tinham consciência de que naquele momento de reavaliação/reformulação era preciso ponderar e planejar o SPFC 2012 de forma sólida, longe de decisões imediatistas, midiáticas e paliativas.
Uma das primeiras medidas foi proporcionar confiança a Leão. Um técnico que tem um currículo vencedor, tanto dentro como fora dos gramados, e com a marca de ter dirigido a Seleção Brasileira. O São Paulo, sem dúvida, precisava de um comandante de peso.
Além de transmitir confiança, a diretoria foi sábia ao entender que era preciso conceder o tempo necessário (e consciente) para se forjar um novo padrão de jogo na equipe. Desta forma, ao invés de colocar pressão sobre resultados, afastou-se da mídia e deu tempo ao tempo, pois o que o São Paulo mais precisava era de tranquilidade.
E essa nova postura adotada vem se mostrando eficaz. Prova disso é que o São Paulo só perdeu um jogo na temporada 2012 e vem numa sequência de 12 jogos sem derrotas, sendo nove vitórias consecutivas.
São dados expressivos diante da equipe irregular e apática do ano passado.
Porém, vale destacar que, além dos resultados positivos, o importante é que o São Paulo 2012 mudou sua postura. Agora o time é aguerrido, corre os 90 minutos e não desiste nunca, mesmo com o placar adverso.
O São Paulo de hoje pode até perder, mas o torcedor não sentirá tanto, pois vê em campo que houve muita transpiração e vontade de vencer. Perder faz parte da vida, mas se entregar é uma opção que, diga-se, deixou de existir no Tricolor.
Se a raça e a gana por títulos voltaram com a chegada do profissionalismo exacerbado de Émerson Leão e os novos jogadores, fato é que ainda falta um encaixe perfeito, um aprimoramento técnico. O que melhoram as perspectivas com uma conciliação de raça, tática e técnica.
Mas isso é fruto de um processo que já avançou positivamente, mas ainda está em desenvolvimento.
2) AMPLIAÇÃO MATERIAL E IMPLANTAÇÃO DE ALMA PARA A BASE
Juvenal nunca escondeu que tem verdadeira paixão pela formação de novos jogadores. E vem investindo pesado no Centro de Atletas de Cotia tanto na parte física como na formação de um corpo técnico pensante, que sempre foi uma das marcas do São Paulo.
Ao contrário do que a mídia tenta vender, Juvenal não é só paixão. Juvenal é cerebral e tem plena visão de que os clubes que não investirem na formação de novos atletas encontrarão dificuldades para adminitrá-los.
O investimento maciço na base se faz valer sobremaneira se considerarmos o mercado da bola. Os bons jogares, diferenciados, mesmo jogando nos lugares mais longínquos do globo estão cada vez mais caros e, consequentemente, as folhas salariais cada vez mais elevadas.
Assim, do ponto de vista administrativo, Juvenal compreende que, mesmo o futebol moderno com os altos patrocínios nas camisas, ações de marketing se profissionalizando e as verbas dos direitos de transmissão, caso não invistam nas equipes de base, futuramente, isso poderá significar um desastre nas economias dos clubes brasileiros.
Se por um lado o SPFC possui uma das maiores e melhores estruturas físicas do mundo no profissional e nas categorias de base, Juvenal e a diretoria perceberam que de nada adianta essa estrutura sem alma para vibrar entre os metais e concretos.
JJ acompanha de perto as equipes de base e ficou decepcionado com a participação dos meninos na Copa São Paulo 2012. Mais uma vez, agora na base, Juvenal identificou o problema e partiu, juntamente com a diretoria, em busca de soluções sólidas.
Desta maneira revolucionaram mais uma vez ao contratar o inteligente e estrategista técnico René Simões, com objetivo de implantar uma filosofia e estabelecer um padrão de alto nível às categorias de base.
René Simões tem o perfil do São Paulo e mais uma vez a diretoria foi precisa na contratação.
Para conhecer melhor a ter a dimensão do que estou falando, Simões é formado em Educação Física, é membro do painel de instrutores da FIFA.
Muitos não sabem, mas é o único treinador do mundo que já dirigiu seleções masculinas e femininas em competições oficiais da Fifa e que já comandou todas as categorias de Seleções em Copas do Mundo da FIFA.
René também já comandou os selecionados Sub-17 com Trinidade e Tobago e Sub-20 com o Brasil, além da seleção principal da Jamaica na Copa do Mundo de 1998.
De acordo com o site FIFA, quando Simões assumiu a seleção da Costa Rica: “O técnico conquistou fama em 1998, quando levou a Jamaica à sua primeira Copa do Mundo da FIFA, na França. Foi a primeira participação de um país caribenho de língua inglesa no mundial, e a reestruturação que aconteceu no futebol jamaicano a partir daí pode ser atribuída em grande parte ao expressivo treinador.”
Na mesma matéria, a reportagem da FIFA destaca um perfil ainda pouco valorizado no meio do futebol, o lado pensador: “Não é por acaso que René Simões é frequentemente chamado de ‘o professor’. O técnico carioca é um verdadeiro pensador, um estudioso do futebol, uma presença marcante à beira do campo.”
Para finalizar, em mais um trecho na matéria, destaca-se a postura de Simões. “Contratado para executar uma missão de resgate, o brasileiro fala com romantismo sobre a sua filosofia de futebol. ‘Para mim o futebol é como uma tourada,’ diz Simões, para em seguida esclarecer que não é a favor da matança de animais. “O toureiro é obrigado a abater o touro, mas ele não pega uma arma e atira na cara do animal. Tem toda uma arte, uma dança, um balé. Quero que o meu time vença, mas que vença bonito.”
A mídia esportiva não deu tanto destaque para essa contratação técnica. Num mundo instantâneo, exibir os gols e mostrar jogadores presos por falta de pagamento de pensão proporciona mais audiência.
Exibir gols é mais compreensível ao torcedor passional do que analisar os desdobramentos e os impactos da contratação de um técnico como René Simões para dirigir a base Tricolor.
Considerando há política em tudo na vida, ao contratar Simões para a base tricolor, Juvenal e a diretoria inverteram/quebraram mais uma vez a lógica do sistema. Priorizaram a razão, e não o marketing.
Para efeito comparativo, em época de política, os prefeitos investem em pontes, fazem o recapeamento das vias públicas, reformam praças, pois, são os segmentos de obras/benfeitorias que estão ao alcance dos olhos do povo e, desta forma, geram muitos votos e muitas aparições na imprensa.
O que Juvenal e a diretoria vem fizeram e vem fazendo é investir em Cultura. No caso, na cultura futebolística, formando uma base padronizada, estabelecendo fundamentos, determinando a postura e a filosofia do Clube.
Não são ações que geram muitos votos, não erguem verdades imediatas para os torcedores, mas representam mudanças estruturais que determinarão o São Paulo do futuro, tanto no patrimônio físico como no imaterial, a filosofia do clube.

Ricardo Flaitt é jornalista (MTb 40.939) e historiador.
Colunista do site Tricolor Paulista.net

E-referência
Site da Fifa. Consulta em 6 de abril de 2012. http://pt.fifa.com/worldcup/archive/southafrica2010/news/newsid=1125367/
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