domingo, 30 de outubro de 2011

ADVOGADO DO SÃO PAULO: "TODO MUNDO SABE O QUE MOTIVOU O PRESIDENTE DA CBF NESSA SUA SANHA VINGATIVA"

Entrevistei José Francisco Manssur, advogado do São Paulo e integrante do comitê das reformas do Morumbi.
Para me conceder a entrevista, ele solicitou que eu não editasse nada.
E disse que preferia receber as perguntas por email ( provavelmente para manter cada palavra sobra as explicações e posições dele)
Por isso bloguei tudo na íntegra, sem cortes.
Meus questionamentos estão em negrito.
Passado algum tempo da derrota na briga para ser o palco paulista da Copa, como você avalia todo o processo de exclusão do Morumbi da competição?
- Minha avaliação não é diferente daquilo que tenho certeza que é a avaliação da grande maioria da opinião pública isenta que acompanhou os fatos: o Estádio do Morumbi foi preterido sem nenhuma razão técnica, por uma decisão motivada exclusivamente pela vontade do Presidente da CBF que, àquela época, comandava o processo da organização da Copa do Mundo no Brasil, aproveitando-se do fato de os governos envolvidos aceitarem passivamente que o dirigente de uma entidade privada pudesse decidir, no lugar dos governantes eleitos pelo povo, questões de Estado que envolvem investimentos de bilhões de reais em dinheiro público.
Eu li, como milhares de pessoas devem ter lido, uma reportagem publicada no Jornal “O Estado de São Paulo” do dia 21 de outubro, no qual os jornalistas relatam como esse cidadão comunicou a eles, para que saísse no jornal do dia seguinte, sua decisão de excluir o Estádio do Morumbi da Copa, no dia em que se viu frustrado e raivoso pelo resultado da eleição do Clube dos 13.
Segundo a reportagem, que até onde eu sei não foi desmentida, o sujeito fala algo como “você vai ver agora como é esse jogo” e em seguida afirma que as razões pela exclusão do Estádio do Morumbi seria o uso de arquibancadas móveis, o que não seria permitido para o estádio da abertura da Copa e para evitar o aporte de dinheiro público num estádio privado.
Pois o estádio escolhido terá arquibancadas móveis pagas pelo Governo do Estado.
E não verifiquei nenhuma reação de indignação, nenhuma repercussão, ninguém questionando essa absurda contradição.
Porque ninguém fica surpreso ao descobrir o que já sabe. Todo mundo sabe o que motivou o Presidente da CBF nessa sua sanha vingativa e motivada pelos seus interesses pessoais. As pessoas se conformaram e perderam a expectativa de uma condução séria e responsável na organização da Copa do Mundo no Brasil.
E o processo pelo qual passou o Estádio do Morumbi tem muito a ver com a formação dessa consciência da opinião pública sobre como, por quem e sob quais diretrizes está sendo organizada a Copa do Mundo no Brasil. Porque o Estádio do Morumbi foi protagonista dessa triste história, vítima que foi dessa trama sórdida que também incluía fazer divulgar na imprensa notícias negativas sobre o Estádio quase toda a semana.
Ele e seus subordinados, profissionais ou aqueles que se comportam assim por medo ou interesses diversos, fizeram de tudo para convencer a opinião pública de que o Estádio do Morumbi não teria condições técnicas para receber a Copa e o que conseguiram foi convencer a opinião pública de que, ELES SIM, é que não têm a menor condição, sob todos os aspectos, para estarem à frente da organização de um evento da importância e com os custos de uma Copa do Mundo no Brasil.
Não dá para afastar daquilo que aconteceu com o Estádio do Morumbi, já que esse foi o grande assunto naqueles anos, a constatação de que, em 2007, quando a Copa foi anunciada para o Brasil, o Presidente da CBF era uma figura poderosa, bajulada por governantes e políticos em geral que faziam questão de recebê-lo nas sedes administrativas dos governos e que hoje, passados 4 anos, a Presidenta da República evita recebê-lo ou aparecer ao seu lado nos eventos e parece que a autarquia pública que mais se esforça para contar com a sua presença em seus escritórios é a Polícia Federal.
Então, passado esse tempo todo, se o que aconteceu com o Estádio do Morumbi serviu para pelo menos ajudar ou reforçar a formação do conceito da opinião pública sobre a organização da Copa do Mundo no Brasil e seus responsáveis, isso que Você chama de derrota por ter trazido consigo algumas importantes vitórias muito mais relevantes para o esporte e para o País como um todo e o SPFC não se coloca alheio a isso.
Vocês erraram? Fariam algo diferente se tivessem a oportunidade? Acredita que o estádio, em algum momento, realmente teve chance de ser escolhido?
– Acredito que o Estádio do Morumbi realmente teria tido chance de ter sido a sede da Copa do Mundo se os governantes, nas três esferas, federal, estadual e municipal, tivessem assumido o comportamento de não aceitar passivamente que o Presidente da CBF tomasse por eles as decisões sobre a Copa em SP.
O Estádio do Morumbi não foi indicado pelo SPFC para ser a Sede Paulista da Copa do Mundo. Foi indicado em documento assinado pelo então Governador e pelo Prefeito, em uma decisão várias vezes ratificada e apoiada pelo Governo Federal. Quando o Estádio do Morumbi foi excluído, a comunicação foi remetida ao Comitê Paulista, nomeado pelo Governador e pelo Prefeito.
Aliás, não enviaram sequer uma carta ao Comitê Paulista na época. Publicaram uma notinha no site da CBF, em resposta ao Ofício em papel timbrado que o então Secretário de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo – Sr. Francisco Luna – enviou para o Comitê Organizador. Quando eu vi aquilo lembrei que na bandeira de São Paulo está escrito “não sou conduzido, conduzo…”
A partir do momento em que os governantes passaram a entender que o Presidente da CBF teria o poder, competência e autoridade para tomar esse tipo de decisão e proceder daquela forma em relação a Candidatura de São Paulo, realmente o Estádio do Morumbi deixou de ter qualquer chance. Porque só uma pessoa estaria no comando e essa pessoa não queria o Estádio do Morumbi, por razões que já mencionei acima.
Não havia, então, a quem recorrer para evitar que o interesse pessoal se sobrepusesse ao interesse público. A partir disso, se houve algum erro técnico do SPFC – e não tenho a pretensão de dizer que não possa ter havido – não seria relevante ou suficiente para justificar a exclusão da Copa do Mundo. A decisão tomada não dependia de nenhum trabalho técnico que o SPFC pudesse vir a desenvolver, evolução nos projetos de arquitetura, que o SPFC sempre fez de acordo com as recomendações recebidas ou a obtenção das garantias financeiras do Projeto, que o SPFC apresentou na data estipulada pelo Comitê Organizador Local, em Ofício protocolado no Palácio dos Bandeirantes.
Há, em relação a outras sedes, uma série de situações que, se fossem levadas a sério das regras estipuladas pela organização da Copa, poderiam ter levado à exclusão de determinados estádios ou mesmo das cidades e isso nunca mais voltou a acontecer, ao menos não até agora.
Por que não (ou sim)?
- Entendo que respondi acima.
Por que o São Paulo não se aproximou de Ricardo Teixeira e defendeu o uso de dinheiro público na reforma? Isso teria mudado algo?
Cabe ao SPFC manter com o Presidente da CBF uma relação institucional. A relação institucional que deve existir entre um clube o presidente da confederação da modalidade que esse clube pratica. E isso o SPFC nunca deixou de ter. Nem antes, nem durante e mesmo depois do que aconteceu com o Estádio do Morumbi.
Não sei o que Você quer dizer com “se aproximar” nesse caso. Justificar que decisões que envolvem investimentos e negócios de bilhões de reais porque João é amigo de Pedro ou Pedro é amigo de Antônio é ingenuidade diante de negócios desse tamanho ou conformismo com o descontrole e a irresponsabilidade.
Da mesma forma que não caberia ao SPFC definir a aplicação de dinheiro público. Essa responsabilidade é dos Governos. O SPFC sempre aceitou como correta a decisão de não aplicar dinheiro público na reforma de um bem privado.
Porém, se isso ocorre, o Estado não tem a possibilidade nem o direito, tem o dever e a obrigação de tomar as rédeas do assunto, assumir suas responsabilidades e coibir o que puder resultar em uso inadequado dos bens do Povo. E os estádios da copa, praticamente todos eles, estão sendo reformados com dinheiro público.
É um absurdo revoltante essa justificativa de alguns administradores públicos para não assumirem suas responsabilidades com a organização da Copa do Mundo sob a alegação de que a Copa do Mundo seria um evento privado. Evento privado coisa nenhuma! Como é privado um evento cujo valor total será bancado mais de 90% pelo dinheiro público? Nesse contexto, os governos, não a FIFA/CBF/COL, seja lá quem forem essas entidades privadas, não podem tomar as decisões privativas dos governantes eleitos. O fator fundamental foi a forma como os governos permitiram que os interesses privados tomassem conta de um evento público.
Lula prometeu que o Morumbi seria o estádio da Copa e não cumpriu? O ex-presidente mentiu, enrolou o São Paulo?
– O Presidente da República afirmou em diversas oportunidades que o Estádio do Morumbi seria a melhor opção de São Paulo para a Copa do Mundo. Como também falaram o então Governador, o Prefeito, ministros e secretários. Não acredito que tenham mentido ou que falaram o que não pensavam. Mas todos eles se submeteram à vontade, aos interesses e à inaceitável autoridade do Presidente da CBF. E quando um tema diz respeito aos bens e interesses públicos, o Estado não pode se submeter e aceitar que a vontade do Privado não pode ser contestada, ainda mais nesse caso.
Infelizmente,  foi o que aconteceu em relação a todas as esferas de governo envolvidas, sob esse argumento, que já disse pensar ser absurdo e inaceitável, de que a Copa do Mundo seria um evento privado e que, portanto, o Governo não teria a responsabilidade de interferir em decisões da FIFA/CBF/COL Essa omissão é inaceitável já trouxe e poderá trazer enormes prejuízos para o País.
Quanto a empreitada mal-sucedida custou (dinheiro) ao clube?
– Não concordo com a sua opinião sobre o insucesso da empreitada.
O que o SPFC investiu na modernização do Estádio do Morumbi durante o período em que esteve indicado para a Copa está sendo utilizado hoje, em favor da segurança e do conforto dos seus torcedores. Tanto assim que as obras de modernização continuam, tanto na reforma de assentos, banheiros, construção de camarotes e áreas de hospitalidade, além do projeto de cobertura de todos os assentos que também foi desenvolvido naquela ocasião. Nada se perdeu.Tudo está sendo e será utilizado pelo torcedor que freqüenta o Estádio do Morumbi, que, afinal, recebe uma média de 55 eventos por ano.
Na parte externa, o volume de obras de infraestrutura projetadas quando o Estádio do Morumbi foi indicado como sede da Copa do Mundo vai causar uma mudança significativa nas condições de acessibilidade para o entorno, em benefício do Estádio e da população, especialmente no Bairro do Morumbi. Gente que mora e trabalha na região e que hoje encontra enormes dificuldades para se locomover.
A chegada da Linha 4 Amarela do Metrô, com a inauguração da Estação São Paulo – Morumbi que ficará distante 1.180 m do Estádio, somada à construção da Linha 17 OURO que ligará o Aeroporto de Congonhas à Linha 4 na Estação São Paulo – Morumbi, vai causar uma melhoria essencial para as condições de trânsito do Bairro, hoje absolutamente sufocado.
Como parte das obras da Linha 17 OURO haverá a revitalização da Praça Roberto Gomes Pedrosa, um equipamento que hoje não tem a menor serventia para o lazer da população e que vai ganhar uma nova conformação, plana, arborizada e com estacionamento para os usuários do metrô e que poderá servir também para quem for ao Estádio nos dias de eventos. Além da construção de piscinões que será a solução para os gravíssimos problemas de enchentes na região. Obras que deixam legado, benefício que vai muito além do evento esportivo, que vai mudar o dia a dia das pessoas. Essa obra está orçada em R$ 3,2 bilhões de reais, nesse caso, investimento público em melhoria de infraestrutura que vai deixar legado para a população. Portanto, o valor investido gerou um retorno cujo valor é muitas, mas muitas vezes maior.
O time não conquista títulos desde quando entrou na briga pelo Morumbi no Mundial. Há ligação entre o que se passa no futebol e as questões do Morumbi na Copa?
– Não vejo relação. Os temas são tratados por diretorias distintas. É lógico que o Presidente é o poder central e é sua função tomar a frente e nortear todas as esferas de atuação do Clube. Mas toda organização funciona assim, com departamentos distintos cuidando de assuntos distintos e um poder central coordenando as ações e dando as diretrizes a serem seguidas.
Sendo assim, até porque tenho que ficar adstrito à minha área de atuação designada pelo Presidente, não me sinto autorizado a responder sobre o desempenho do futebol, sob a responsabilidade do Departamento de Futebol, seu Vice-Presidente e diretores.
A relação com o Corinthians piorou depois da vitória Alvinegra na disputa?
– Não posso dizer como eram as relações entre SPFC e Corinthians antes de o assunto Copa do Mundo vir à tona. Eu não trabalhava para o SPFC antes de 2007, era apenas um fanático torcedor, que ainda sou. Estando vivendo mais de perto o dia a dia do Clube, é possível dizer que só acompanhei esse período mais recente. Todavia, não concordo com Você quando menciona que teria havido “disputa” entre os Clubes.
Durante o período em que o Estádio do Morumbi esteve indicado nunca se falou na possibilidade de a sede ser um estádio de propriedade do Corinthians. Ao menos não na nossa frente… A versão oficial é que a idéia de realizar a Copa do Mundo num estádio a ser construído para ser o estádio do Corinthians surgiu depois do anúncio da exclusão do Estádio do Morumbi. Essa tentativa de transformar em disputa clubística essa questão só interessa a quem quer afastar o pensamento racional sobre o assunto e apelar para o emocional do torcedor, para criar um ambiente propício para que as questões não sejam discutidas com o cuidado que merecem temas que envolvem a aplicação de grandes volumes de dinheiro, inclusive dinheiro público.
Tratar o caso como uma disputa entre SPFC e Corinthians não trará nenhuma vantagem para os torcedores do SPFC, nem ao menos para os torcedores do Corinthians, visto que pode justificar, em ambos os casos, o descontrole nos investimentos e a perda da responsabilidade para com o patrimônio que é do Clube, dos seus associados e, em última análise, dos seus milhões de torcedores. Tudo justificado pela necessidade de “vencer o rival”. Essa disputa artificial só beneficia quem eventualmente venha a obter alguma vantagem quanto maior for o volume de recursos gastos nessa empreitada, quem eventualmente vier a se beneficiar se não houver controle racional dos projetos e que usa o fator emocional para justificar o que não teria justificativa ou explicação num plano de negócios sério e responsável. Só é bom para quem quer levar vantagem pessoal e não beneficia em nada as instituições. A disputa real e válida entre clubes de futebol é no campo de jogo.
O São Paulo tem algo a aprender com o Corinthians?
– Tem. Como tem a aprender com todos os outros grandes clubes do Brasil e do Exterior. Como todos eles teriam boas coisas a aprender com o SPFC. Sempre há algo a aprender. Ninguém sabe tudo e sempre há algo a ser aprendido em todas as situações.

Fonte: Blog do Birner
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