O Ministério Público pediu à prefeitura que não dê alvarás para shows no Morumbi; não se pode matar uma atividade que gera renda e empregos
Parece absurdo, mas corremos o risco de perder shows de Pearl Jam, Justin Bieber e Eric Clapton, contratados para se apresentar no estádio do Morumbi, com mais de 300 mil ingressos vendidos.
Membros do Ministério Público, acionados por alguns, pediram ao Contru (Departamento de Controle do Uso de Imóveis, órgão da prefeitura) que não conceda alvarás para shows no único local seguro e com grande capacidade de público que temos atualmente.
Isso no momento em que São Paulo celebra a evolução das economias criativas e da vocação da cidade para a inovação e a produção cultural.
Isso no momento em que São Paulo celebra a evolução das economias criativas e da vocação da cidade para a inovação e a produção cultural.
Nova York, até 1972, era uma cidade fabril, falida e violenta. A sociedade se uniu e a transformou em um moderno polo de entretenimento e cultura. São Paulo começou a trilhar esse caminho e é hoje percebida como capital criativa por seus talentos e por sua produção cultural.
A cidade está no calendário internacional de shows, é centro de moda, design, publicidade, exposições, megaeventos...
Aqui, temos a Virada Cultural, a SPFW, grandes feiras e mostras, as bienais, as fórmulas 1 e Indy, entre outros, e surgem clusters criativos, como a Vila Madalena, o Baixo Augusta e a praça Roosevelt.
Descobrimos o negócio do entretenimento, que, conectado a essa cadeia criativa, produz R$ 40 bilhões ao ano, segundo a Fundap (Fundação do Desenvolvimento Administrativo).
Megashows como os do U2 levaram ao Morumbi 270 mil pessoas, sendo 90 mil de fora, que deixaram R$ 150 milhões e lotaram 43 mil quartos de hotéis -que empregam 44 mil pessoas.
Essa agenda cultural é nossa riqueza, é nossa "praia" e deveria ser celebrada. Mas existe uma minoria intolerante que distorce fatos e induz a uma falsa percepção autoridades que não conhecem a complexidade do setor e o quese vai perder.
É aceitável buscar ajustamentos de conduta, mas não matar uma atividade que gera renda e empregos, diminui desigualdades, promove inclusão e posiciona São Paulo como metrópole global criativa perante a concorrência. Cidades mundo afora pagam fortunas para receber eventos, pois sabem o quanto são importantes. Não podemos ficar na contramão por conta de poucos que neurotizam pequenos fatos e defendem interesses não coletivos.
O Pacaembu está proibido de receber shows por conta de vizinhos bem articulados que limitaram o uso do local público para seu benefício.
O Parque Antarctica e o Itaquerão só ficarão prontos em 2014.
Essa recomendação do MP irá atingir não só os que compraram ingresso para os shows do Morumbi, mas a cidade como um todo, pois deixaremos de receber mais de 100 mil visitantes que gastariam quase R$ 200 milhões, mantendo 14 mil postos de trabalho.
Quantos espaços sobrarão para megashows?
O MP tem como missão defender o interesse público e causas que favoreçam o bem coletivo. A única forma de nossa cidade não sair perdendo nesse caso é as partes chegarem num acordo racional. Se não mudarmos essas interpretações distorcidas, nossa metrópole poderá virar uma triste necrópole. Para a alegria da concorrência, que abrirá as portas para quem renegarmos.
CAIO LUIZ DE CARVALHO é doutor em comunicação pela ECA-USP, professor da FGV e da Anhembi Morumbi e presidente da SPTuris; foi ministro de Esporte e Turismo.
CAIO LUIZ DE CARVALHO é doutor em comunicação pela ECA-USP, professor da FGV e da Anhembi Morumbi e presidente da SPTuris; foi ministro de Esporte e Turismo.
Fonte: Caio Luiz de Carvalho, Folha
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