Juntos, Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo somam 54 participações na Taça Libertadores, oito títulos. A tradição paulista na competição, porém, não será vista neste ano. Os rivais começam 2014 com o Campeonato Paulista como principal competição. Pela primeira vez desde 1998, a Libertadores não terá um clube do estado na disputa.
Por isso, contratações milionárias estão fora da pauta no primeiro semestre (pelo menos para São Paulo, Corinthians e Palmeiras), e a tendência é de buscar melhores oportunidades na janela de transferências do meio do ano, com mercado mais aquecido, um pouco mais de dinheiro em caixa e competições mais importantes a serem disputadas - Brasileirão, Copa do Brasil e, possivelmente, Copa Sul-Americana.
A exceção é o Santos, que gastou cerca de R$ 42 milhões (com a ajuda de um investidor) para tirar o atacante Leandro Damião do Internacional. O investimento é o ponto fora da curva da regra adotada pelos paulistas no início de 2014. Os quatro grandes projetam dificuldades nos primeiros seis meses do ano: arrecadação, exposição e qualidade vão cair sem a Libertadores.
– Será um ano difícil para todos nós. Por isso, vejo os quatro grandes em condições de igualdade. O Campeonato Paulista é o que vai valer mais nesse primeiro semestre, infelizmente é o que temos – afirmou Roberto de Andrade, diretor de futebol do Corinthians.
Os discursos de Timão, Verdão, Peixe e Tricolor são parecidos. O GloboEsporte.com conversou com dirigentes dos quatro clubes para entender o que cada um deles deixa de ganhar no primeiro semestre. E quais são as estratégias para driblar meses que prometem ser mais enxutos no calendário do futebol paulista. Confira
Emerson festeja gol na final da Libertadores 2012. Neste ano, só tem Paulistão (Foto: Marcos Ribolli)
A ausência na Libertadores após participações em quatro anos consecutivos causou mudanças no orçamento do Corinthians para a temporada. O pé no freio pôde ser detectado na previsão de gastos do clube em 2014 e também na atuação da diretoria no mercado entre dezembro e janeiro. Ao contrário dos quase R$ 60 milhões investidos ano passado, o limite imposto para o primeiro semestre foi de R$ 10 milhões.
O dinheiro foi utilizado para contratar o lateral-esquerdo Uendel e o volante Bruno Henrique. Ano passado, Alexandre Pato, Renato Augusto e Gil chegaram com badalação muito maior. Sem a competição continental, o Timão vai se armar para o segundo semestre.
– Não dá para contratar um Pato, um Renato Augusto todos os anos. Temos um bom elenco e vamos disputar o Paulista com o que temos – disse Roberto de Andrade.
O caixa do Corinthians nos últimos anos sempre foi fechado com a ajuda da bilheteria obtida nos jogos da Libertadores no Pacaembu. A previsão para 2014 é de uma queda de mais de 50% nos ganhos com ingressos – mesmo com a abertura da nova arena do clube, em abril. Se em 2013 a arrecadação bateu os R$ 26 milhões, agora a previsão é de “apenas” R$ 12 milhões em caixa por meio das bilheterias.
A redução na folha salarial também está em pauta. Jogadores caros, como Danilo, Douglas e Emerson, podem ser liberados em caso de propostas. Em ano com corte nas receitas, o clube aperta os cintos para terminar 2014 no azul.
São Paulo terá de aumentar número de shows no Morumbi para compensar (Foto: Marcos Ribolli
Para compensar a ausência na Libertadores, o São Paulo tentará faturar com o aluguel do Morumbi para shows musicais. Foram reservadas quatro datas para 2014. Cada show rende ao Tricolor R$ 1,5 milhão livres de impostos. Os ganhos podem equilibrar o que o clube vai deixar de faturar na competição internacional – de acordo com estimativa do Departamento Financeiro do Tricolor, o clube arrecada até R$ 7 milhões em bilheteria chegando à final da competição continental
– Nós esperamos um ano muito difícil. Não só por estarmos fora da Libertadores, mas também por conta da Copa do Mundo. A entrada de recursos não vai ser alta em 2014. Sem jogar a Libertadores, que é a competição preferida da nossa torcida e do clube, teremos menos receita de bilheterias. A nossa torcida costuma lotar o Morumbi em jogos da Libertadores – explicou Osvaldo Vieira de Abreu, diretor financeiro do Tricolor.
– A previsão orçamentária para 2014 é de R$ 311 milhões de receita e quase o mesmo de despesas, com superávit de R$ 500 mil. Era para ser mais alto, mas por conta dos problemas citados, (o ano) não será tão rentável – completou.
Sem a Libertadores, o São Paulo busca outras formas de aumentar as suas receitas, além da cessão do estádio para eventos. Uma delas é o aluguel dos seus dois centros de treinamentos para seleções na Copa do Mundo. A seleção dos Estados Unidos deverá ficar no CT da Barra Funda, e a Colômbia, no CT de Cotia. Os acordos ainda não foram assinados e nem os valores divulgados. Porém, os americanos já farão neste mês um período de dez dias de aclimatação na Barra Funda.
Mesmo prevendo queda de receita, Verdão se reforçou motivado por volta à Série A (Foto: Marcos Ribolli)
O Palmeiras vive situação diferente. De volta à elite do Campeonato Brasileiro, o clube não lamenta tanto a ausência na Libertadores. A prioridade de 2013 era retornar a Série A, missão que foi cumprida com seis rodadas de antecedência na Série B. Mesmo sem estar na competição continental, o clube foi ao mercado para melhorar o elenco, visando o centenário e o retorno à elite. No entanto, é comedido nos gastos. A não ser pela compra dos direitos econômicos de Leandro, na qual investiu R$ 8 milhões, o clube tem optado por reforços baratos e que se encaixem na nova política salarial do clube, que paga valores abaixo do mercado, mas compensa com bônus por metas.
Nesse modelo, o clube oficializou seis reforços: Lúcio, Victorino, Diogo, Rodolfo, França e William Matheus, além da compra definitiva de Leandro. O Verdão também tem acertos com Marquinhos Gabriel, ex-Bahia, e Danilo Neco, que saiu do Alania, da Rússia, e briga na Fifa para ser liberado.
Segundo a diretoria, o maior prejuízo por estar fora da Libertadores se dá na receita de bilheteria. Nos quatro jogos com mando alviverde na competição de 2013, o Palmeiras arrecadou aproximadamente R$ 4,6 milhões.
Em compensação, o Verdão aposta na inauguração da Arena Palmeiras, o Allianz Parque, novo nome do estádio Palestra Itália, para alavancar receita. A previsão é de que o estádio, com capacidade para 43.603 pessoas, seja aberto no início de junho. Além dos jogos, o clube arrecadará com shows e eventos no local.
Pela previsão de orçamento aprovada pelo Conselho de Orientação e Fiscalização (COF), o Palmeiras ganhará aproximadamente R$ 11 milhões com bilheteria, R$ 30 milhões com patrocínios na camisa e quase R$ 10 milhões com o Avanti, programa de sócio-torcedor. O balanço de 2013 ainda não foi submetido ao COF e por isso os números não foram divulgados.
Damião é exceção à tendência: custou R$ 41,6 milhões (Foto: Ricardo Saibun/Divulgação Santos FC)
Acumulando seu segundo ano fora da Taça Libertadores, o Santos não está medindo esforços para retornar à competição. É a exceção na regra paulista de evitar reforços milionários neste início de ano. Dispostos a voltar à mais importante competição da América do Sul, os dirigentes resolveram reforçar a equipe. Até o momento, só o atacante Leandro Damião foi confirmado, mas o investimento já se mostra gigantesco. Para contratar o ex-atacante do Internacional, o Peixe recorreu ao fundo de investimento Doyen Sports, que emprestou os € 13 milhões (R$ 41,6 milhões) necessários para tirar o jogador do Beira Rio – o empréstimo deve ser pago os investidores em um prazo máximo de cinco anos, com juros de 10% ao ano, podendo chegar à marca de R$ 62,4 milhões.
– Não estamos contentes com a temporada que o Santos teve. Queremos que ele volte a ganhar títulos – comentou Francisco Cembranelli, influente membro do Comitê de Gestão do Alvinegro Praiano.
Leandro Damião, porém, não deve ser o único reforço para 2014. O zagueiro Bruno Uvini, o meia Lucas Lima e o atacante Eduardo Vargas podem ser confirmados nos próximos dias.
Em dezembro, quando resolveu abrir mão dos veteranos Fábio Costa, Durval, Marcos Assunção e Renato Abreu, além do contestado Everton Costa, a diretoria santista tinha em mente a economia mensal de cerca de R$ 1,5 milhão.
Por outro lado, os dirigentes não pensaram duas vezes em oferecer salários atraentes a seus principais alvos. Leandro Damião receberá R$ 500 mil mensais. Vargas, que deve ser confirmado no início da semana, ganhará R$ 270 mil por mês. Mas é Diego, do Wolfsburg, da Alemanha, que deve faturar o maior salário na Vila Belmiro: se acertar com o Peixe, como a diretoria espera, ele representará um custo mensal de R$ 700 mil.
No banco de reservas do Santos, outro grande investimento da diretoria: o técnico Oswaldo de Oliveira. O ex-treinador do Botafogo receberá na Vila Belmiro cerca de R$ 400 mil mensais, cinco vezes mais que Claudinei Oliveira, que dirigiu o Peixe entre maio e dezembro.
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