terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Com Ibra como parâmetro e CT de Cotia 'terceirizado', Aidar sonha alto

Contratar um jogador do porte de Ibrahimovic, deixar o Morumbi melhor do que os novíssimos estádios de Coritnhians e Palmeiras, transformar o CT de Cotia numa universidade independente, a ponto de o próprio São Paulo ter de negociar para utilizar os jogadores que revela, criar uma liga dos clubes, reduzir o número de equipes do Brasileirão e abrir as portas do Tricolor paulista aos investidores.
Não se pode dizer que Carlos Miguel Aidar, candidato à presidente do São Paulo pela chapa de situação, não sonhe alto. Ele não promete nada disso, é bom dizer, mas promete tentar tudo.
- Se eu ficar aqui sentado, nada vai acontecer.
Carlos Miguel Aidar, candidato à presidência do São Paulo (Foto: Alexandre Lozetti)
Muito mais à vontade na posição de candidato do que na entrevista que concedeu ao GloboEsporte.com em setembro do ano passado, o advogado voltou a receber a reportagem na semana passada e deu detalhes de como pretende administrar o São Paulo se for eleito na segunda quinzena de abril.
Mesmo apoiado por Juvenal Juvêncio, presidente nos últimos oito anos, Aidar fala o tempo inteiro em mudanças. Quer um clube mais ousado, mais jovem e mais profissional. O exemplo citado na entrevista para definir essa ousadia foi Ibrahimovic, atacante do PSG que, segundo ele, poderia ter “curiosidade” de jogar no futebol sul-americano.
O candidato não quer medir esforços para montar um grande time. Disse que, ao contrário do que a atual diretoria costuma fazer, abrirá as portas para todos os investidores, “desde que seja dinheiro honesto”. E explicou que, se sua ideia der certo, o São Paulo terá de contratar os jogadores formados em Cotia para utilizá-los em sua equipe profissional.
- O comando será do São Paulo, mas será uma unidade de negócios, uma universidade, que vai ter de render dinheiro. Vai se sustentar.
Aidar também contestou a atuação da oposição na tentativa de barrar a reforma do Morumbi. Segundo ele, se não houver quórum numa reunião a ser marcada para fevereiro, assim como houve em dezembro, o estatuto será alterado para diminuir o número mínimo de conselheiros para 50% e, assim, aprovarem o contrato.
- Se a oposição reprovar isso de novo, o Kalil e o Marco Aurélio serão enterrados.

O senhor tem dito que assumirá uma postura ousada no mercado de jogadores. Isso contrasta com a tendência atual, adotada inclusive pelo São Paulo, não acha?Quem fez o primeiro projeto de um fundo de investimento num único atleta? Fui eu. Era o Kaká. Mas tínhamos um presidente acanhado na época, que era o Marcelo (Portugal Gouvêa, que dirigiu o clube de 2002 a 2006) e um vice ainda mais acanhado para essas coisas, que era o Juvenal. E o pai do jogador ficou desconfiado. O São Paulo ia perder o Kaká em fim de contrato. Chamei um banco e um advogado especialista. Um grupo de investidores faria um fundo, seguraríamos o Kaká, venderíamos depois da Copa do Mundo e rachariam o lucro na proporção do investimento. Os caras tiveram medo, mas estou com esse negócio na cabeça. Em 1985 eu trouxe o Falcão. O Cilinho, que não gostava de craques, só de menininhos, falou: “Você tá louco!”. Por que não posso fazer isso de novo? É uma questão de determinação.
Por que não vou buscar o Ibrahimovic, que não vai jogar a Copa? Um ano por empréstimo. Será que ele não tem curiosidade de jogar aqui? Alguém já falou com ele? Eu não sei. Se eu ficar sentado aqui, ele não vem
Carlos Miguel Aidar
E de ajustes, não acha? O futebol está muito diferente.Por que não vou buscar o Ibrahimovic, que não vai jogar a Copa? Um ano por empréstimo. Será que ele não tem curiosidade de jogar aqui? Alguém já falou com ele? Eu não sei. Se eu ficar sentado aqui, ele não vem.
A atual diretoria sempre bateu na tecla da “saúde financeira” do clube. Para ser ousado dessa forma, o senhor terá de correr riscos?
Tem de correr. É impossível fazer alguma coisa sem correr riscos. Vou pegar meia dúzia de milionários e sugerir: ajudem o São Paulo a trazer o titular da seleção do mundo. Tem de arriscar! E me sinto em mais condições do que o Juvenal de fazer isso porque tenho história nisso. Eu e o São Paulo temos credibilidade. Se um monte de investidores quiser se juntar, estarei de braços abertos para receber. Não há a menor dúvida.
Inclusive de investidores como o Doyen, por exemplo, que levou o Leandro Damião para o Santos?Por que não? O jogador está lá? Não tem problema nenhum, dinheiro não tem carimbo. Venha de onde vier, desde que seja honesto, não seja de qualquer atividade ilegal. Dinheiro legal é bem vindo.
O Juvenal ressaltou as dificuldades do ano de Copa do Mundo. Concorda?
Teremos um ano difícil. O Campeonato Paulista nasce na expectativa de uma Copa do Mundo. Não será uma grande atração. Por sediarmos a Copa do Mundo, os campeonatos vão parar por muito mais tempo. É atípico. Até julho será aquela ressaca, aquela conversa de quem saiu com a camareira... E já será agosto. Teremos quatro meses de campeonato. Se eu não começar a fazer em abril, em agosto não vai dar pra fazer. E preciso de equipe, gente que pense como eu. Já conversei com conselheiros e consultores de fora.
Que consultores?
Já conversei com a Fundação Getúlio Vargas para fazerem um diagnóstico de gestão. Para implantar, contrato outra. O Instituto Áquila, por exemplo, que fez no Atlético-MG. O Kalil contratou e deu certo. Quero gerências executivas abaixo dos conselheiros e diretores. Preciso de sustentação política, mas posso ter profissionais especializados e remunerados. Montei meu escritório de advocacia com a meninada, são todos muito jovens. Meu chefe foi meu estagiário, meu diretor de gestão tem 31 anos, o financeiro também. Todos foram meus estagiários e hoje são meus sócios. Por que não vou fazer isso no São Paulo?
O São Paulo precisa rejuvenescer, principalmente nas ideias, não acha?
Claro, claro, claro. E acho que tenho muita condição, me sinto muito mais bem preparado, focado, disposto, com um pique danado. Estou louco pra fazer isso. Vou ganhar essa eleição, não tenho a menor dúvida, e vou mudar o São Paulo. Você vai guardar isso em algum lugar e vai me falar daqui a três anos. Eu tenho certeza de que vou fazer isso.
Minha ideia é que o futebol do São Paulo tenha três áreas distintas: profissional, base e relações internacionais. Preciso de um vice-presidente que coordene tudo isso e tenha três diretores. Tenho alguns nomes na minha cabeça, mas ainda é cedo
Carlos Miguel Aidar
Quando o entrevistei pela primeira vez, em setembro do ano passado, as ideias para o futebol ainda eram muito prematuras. Quais foram os avanços?
Minha ideia é que o futebol do São Paulo tenha três áreas distintas: profissional, base e relações internacionais. Preciso de um vice-presidente que coordene tudo isso e tenha três diretores. Tenho alguns nomes na minha cabeça, mas ainda é cedo. Não deixo que os conselheiros percebam, mas ao mesmo tempo em que bato papo com eles, avalio se os perfis casam com minha ideia.
O que faria um diretor de relações internacionais?Vai à Conmebol, à Fifa, marca amistosos, torneios, toca contratações de fora. O cara vai fazer toda parte internacional. Não passo fome, mas não sou fluente em inglês. Hoje em dia tem de ter alguém para cuidar só disso.
O senhor disse em outras entrevistas que o Gustavo Oliveira, atual gerente, ficará no cargo.
A ideia é essa porque o Gustavo está indo muito bem até onde eu sei. Não sei se tem gente melhor do que ele para fazer isso no São Paulo. Ele é muito novo, é seu primeiro emprego nessa área, mas é bem aceito pelos jogadores e pela comissão técnica.
Reffis do CT de Cotia (Foto: Divulgação / site oficial do SPFC)CT de Cotia teria total autonomia, segundo Aidar
(Foto: Divulgação / site oficial do SPFC)
Outra coisa que o senhor pretendia fazer era transformar Cotia em uma unidade autônoma de negócios. Já tem isso claro em sua cabeça?
Sim. Hoje temos o Centro de Formação de Atletas Laudo Natel. Quero transformá-lo em Universidade Laudo Natel. Será uma escola de futebol, onde o garoto presta o vestibular, que é o tal do teste, e será desenvolvido moral, física, técnica e culturalmente até se tornar um cidadão preparado para ser bacharel do futebol, ou seja, jogador profissional. O São Paulo vai ter preferência na escolha dos melhores alunos, os mais bem graduados. Como é no sistema de formação norte-americana, onde as grandes figuras saem do esporte universitário.
Isso não tiraria do São Paulo o controle sobre sua categoria de base?
Claro que o comando será do São Paulo. Mas é da universidade que vou tirar os meninos para jogarem no São Paulo. Os que não forem para o São Paulo, irão para o mercado e a receita de venda, empréstimo, vai para essa unidade. Enquanto clube, o São Paulo terá preferência para adquirir de sua unidade. Parece uma ideia primordial para sair dessa coisa amadora. Hoje temos garotos que são assediados por empresários no vestiário, é um desaforo.
Mas como essa ideia inibiria esse assédio? A lei não vai mudar, o sistema de proteção dos garotos será o mesmo.Haverá tratamento para a família dos meninos. Um grupo de psicólogos, acompanhamento cultural. Será uma estrutura profissional que vai custar muito dinheiro. Nós vamos investir. Vou arriscar falar uma coisa pretensiosa, mas a ideia é que daqui a cinco ou seis anos, o São Paulo tenha um time todo formado em Cotia.
(O CT de Cotia) Será uma estrutura profissional que vai custar muito dinheiro. Nós vamos investir. Vou arriscar falar uma coisa pretensiosa, mas a ideia é que daqui a cinco ou seis anos, o São Paulo tenha um time todo formado em Cotia
Carlos Miguel Aidar
O Juvenal passou os oito anos do mandato dele dizendo isso e ficou longe de conseguir.Pois é, estou falando hoje. Até o fim do meu mandato, a ideia é essa. Se forem três anos, eu não sei, mas se eu for para uma reeleição, que é algo que nem penso agora, garanto para você. O time do São Paulo formado 100% em Cotia, do goleiro ao ponta esquerda.
Vamos supor que sua unidade autônoma já funcionasse. Acabou a Copinha, como o São Paulo faria para promover o Boschilia ao time profissional?Qual o valor de mercado dele? A unidade diz que ele vale dez milhões, o São Paulo quer? Se não quiser, o Grêmio paga, o Inter paga, o Cruzeiro paga... Vai ter de render dinheiro.
Mas é difícil imaginar que o São Paulo não tenha privilégios ao negociar com o próprio São Paulo.
Claro. Aí vêm as conveniências. Já falei com uma advogada, grande especialista na área societária, minha sócia. Ela está fazendo estudos preliminares sobre o modelo jurídico preciso. Preciso ganhar a eleição, assumir e contratar alguém. E óbvio que não será meu escritório. Estamos fora, todo mundo aqui já sabe. Tem gente que torce contra mim para não perdermos o São Paulo como cliente (risos).
O senhor divulgou algumas metas para sua gestão caso vença a eleição...Ainda não apresentei o programa completo. Tenho ouvido muita gente no clube para entender as aspirações e compreender as razões antes de montar o programa oficial. Mas há ideias de gestão que sempre tive por conta da minha experiência profissional.
Quem o senhor está ouvindo?Conselheiros e alguns diretores da área social que não fazem parte do Conselho. Cada um tem uma necessidade, o que você faz sempre é pouco perto do que desejam. Teremos de eleger prioridades. O Juvenal vai fechar sua gestão com chave-de-ouro. Se o ciclo não foi tão vitorioso no futebol, na área social deixará os campos reformados, o parque aquático novo e o projeto da reforma do Morumbi pronto e aprovado no Conselho. Porque a oposição percebeu que deu um tiro no pé quando não deu quórum para a aprovação.
E essa reforma interfere tanto assim na área social?O São Paulo, enquanto clube social, precisa de um restaurante de boa cozinha, um teatro e um grande salão de festas. Agora vai ter tudo isso. E há uma grande deficiência que é o estacionamento. O São Paulo é meio pretensioso no que faz. A reforma do Morumbi é colocar uma coroa no rei. E ainda haverá dois prédios de estacionamento. É um ganho de qualidade inestimável. E vamos colocar em cima do estacionamento as quadras prejudicadas durante a construção. Haverá um período de sacrifício, mas não tem jeito. A obra está estimada em um ano e meio e não pode atrasar, senão a Andrade & Gutierrez começa a ter prejuízo.
projeto de cobertura do Morumbi (Foto: Divulgação / São Paulo FC)
Pelo visto o senhor passou a frequentar mais o clube depois que se tornou candidato.À medida que fizermos as reformas grandes, poderemos atacar as pequenas. Há uma reclamação da ginástica feminina: a saída da exaustão de uma das cozinhas leva o cheiro de comida para dentro da sala. É tão simples, só fazer um duto canalizando pra cima, uma obra baratíssima. Ninguém nunca pensou porque não era importante. Vou precisar ampliar a sauna masculina. Fui lá outro dia, me diverti pra burro. Fica um monte de gordo de roupão na antessala comendo porco assado, carneiro recheado, tomando garrafas de cerveja. É só bobagem, vou fazer toda hora.
O senhor falou em um teatro...É a arena multiuso. Um local para 28 mil pessoas, climatizado em 24 graus, 22 no palco. O Morumbi continuará sendo o melhor estádio da cidade, mesmo depois de prontos os estádios do Palmeiras e do Corinthians. Não tenho a menor dúvida.
Mas para isso a obra tem de sair, e na reunião de dezembro não houve quórum.Tem de sair! Quando me tornei candidato, esse projeto estava adiantado. O Juvenal me encaminhou ao assessor dele, o Francisco Manssur, que é cria minha da área de direito desportivo. Ele me deu uma tremenda explicação. Mas procurei também os advogados que o São Paulo contratou, os da construtora, da administradora do estacionamento. Levei meus sócios, pedi ajuda. Naquela reunião do Conselho, eu sabia responder todas as perguntas.
Mas a oposição não entrou, ela reclamou de falta de transparência no contrato.
Eles chegaram, entraram dois ou três gatos pingados e fizeram perguntas provocativas, até burras. Lá havia muita gente de nível, mas também ignorantes ao que estava sendo discutido. E o cidadão não estava lá para discutir o que é bom para o São Paulo, e sim para marcar uma posição de oposição. Mas eles perceberam que deram um tiro no pé porque o sócio está esperando o estacionamento. Aí criaram essa comissão que vai analisar todo o contrato até o fim do mês.
Carlos Miguel Aidar, candidato à presidência do São Paulo (Foto: Alexandre Lozetti)Aidar criticou a oposição (Foto: Alexandre Lozetti)
E se, mesmo depois disso tudo, não houver quórum para aprovar a reforma?Pode acontecer. É difícil atingir um quórum de 75%, só costuma acontecer em dias de eleição. Esse dispositivo que exige 75% foi inserido no estatuto na época da construção do Morumbi. Era uma garantia de que um presidente louco não vendesse o estádio. Hoje é diferente, o próprio Código Civil mais recente tem quórum de dois terços, e não mais de três quartos. Se der quórum, ótimo, vai ser aprovado. Porque se a oposição reprovar isso pela segunda vez, está morta. Kalil e Marco Aurélio serão enterrados. Nunca mais eles se reorganizam com essas mesmas pessoas.
E se não der quórum?Aí vamos reformar o estatuto. Temos maioria no Conselho, convocamos uma extraordinária. Já temos uma decisão na Justiça que o Conselho é o órgão competente. Tanto que não se discute mais o terceiro mandato do Juvenal, ele foi aprovado no Conselho.
De quanto tempo precisariam para fazer isso? Alterar o estatuto mais uma vez não seria um desgaste muito grande?De duas semanas. Convocamos com oito dias de antecedência, fazemos a reforma, registramos. Não há dificuldade nenhuma no meu modo de ver. Mas não é o melhor caminho, haverá certo desgaste. Dirão que o Juvenal é autoritário, ditador, quer empurrar goela abaixo... Não é isso, ele quer o melhor para o São Paulo. O fundo de investimento não vai ficar nos esperando, eles botam o dinheiro em outro lugar. Os 20 investidores estão apalavrados. Vamos perder o bonde da história, ver o burrinho arriado e não vamos conseguir montar. Seria um desastre porque o Morumbi viraria o Canindé. Só serviria para o São Paulo mandar seus jogos. Não haverá mais show algum.
Como vou trazer o Ibra, no exemplo que dei, para ele jogar num campo em que o jogador cobra lateral e o torcedor estica o braço pra bater na bola? Não dá para fazer futebol profissional num gramado em que a bola não corre, tem areia... Não dá
Carlos Miguel Aidar
E a Liga dos clubes? O senhor ainda quer fazer?Quero, mas a Liga é um problema porque preciso de data. Como vou criar datas? Preciso reduzir o número de clubes dos estaduais, principalmente de São Paulo, e do Brasileiro.
Que número de clubes considera ideal?O Paulista com 14, o Brasileiro com 16. Precisa diminuir. Como vou trazer o Ibra, no exemplo que dei, para ele jogar num campo em que o jogador cobra lateral e o torcedor estica o braço pra bater na bola? Não dá para fazer futebol profissional num gramado em que a bola não corre, tem areia... Não dá.
Pretende fazer isso à revelia da CBF ou com ela ao seu lado?Com a CBF ao meu lado. Se eu bater de frente, estou morto. Fiz o Clube dos Treze com a CBF ao meu lado. Sei que é difícil, mas tenho que tentar.

E o Bom Senso? O senhor diz que pretende se aliar ao movimento.Eu conversei com o Rogério Ceni. A proposta deles é muito boa, mas não podem fazer greve contra a CBF porque os empregadores são os clubes. Eles têm de conversar com os clubes, e os clubes com a CBF. Essa é minha base. Acho que fazer greve é uma grande besteira, não é solução. Eles precisam do apoio dos clubes para negociar.
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