No dia 23 de setembro de 2010 Ney Franco foi contratado pela CBF.Assumiu como técnico da Seleção Sub-20 e como coordenador das seleções de base.
Assinou contrato até 2016.
Ney Franco estava empolgado com os planos.
"Vamos tratar as categorias de base do Brasil como elas merecem.
Vou organizar as coisas para a Olimpíada de Londres, para a Copa e para a Olimpíada do Rio, em 2016.
Não vou aceitar convite de clube algum até lá.
O importante é seguir um planejamento inédito na categoria de base.
Chega de improviso, amadorismo."
Ele me deu essa garantia em dezembro de 2010.
Se Ricardo Teixeira continuasse na CBF, Ney Franco teria futuro.
E deveria assumir a Seleção principal, imitando o que países europeus costumam fazer.
Como, por exemplo, a Alemanha.
Esse era o maior sonho do treinador, a ponto de se contentar com os R$ 150 mil mensais.
Mas sua competência começou a incomodar.
Ele fez o Brasil vencer com um pé nas costas o Sul-Americano sub-20 no Peru.
Não contente, ganhou o Campeonato Mundial sub-20 disputado na Colômbia.
Era o homem mais do que indicado para comandar a Seleção Olímpica em Londres.
Ninguém conhecia os melhores jovens jogadores do que ele.
Nem conseguiria melhor resultado.
Os títulos eram as provas.
Mas Mano Menezes quis ser o técnico o Brasil na Inglaterra.
Era sua prerrogativa.
Faltou comando a Teixeira para dizer não e deixar Ney Franco no cargo.
Mano assumiu, mas com a incômoda sombra do treinador campeão mundial.
Mesmo preterido, Ney Franco continuou fiel ao acordo feito com a CBF.
Ele recebeu propostas para ganhar muito mais de clubes brasileiros.
Do Santos, Fluminense, Grêmio e Cruzeiro.
Todos os quatro clubes no mínimo dobravam seus salários: pagariam entre R$ 300 mil e R$ 350 mil.
Mas o treinador se manteve firme.
"Não largo a base do Brasil.
É a minha missão.
Tenho o maior orgulho da responsabilidade nas minhas mãos."
Só que Teixeira caiu e José Maria Marin assumiu.
O novo presidente da CBF a princípio quis manter o organograma da entidade.
E só ouviu elogios atrás de elogios de Ney Franco.
Acreditava que a base do Brasil estava em mãos muito competentes.
Só que o trabalho passou a ser profundo demais.
O mapeamento dos melhores atletas jovens nascidos no país impressionou Marin.
E político rodado que é, percebeu que o treinador era maior que o seu cargo.
Uma sombra enorme de competência.
Vislumbrou que se Mano fracassar na Olimpíada de Londres, o dirigente poderia ser criticado.
Pelo simples fato de não ter entregue a Seleção Olímpica a quem merecia.
E Marin e seu vice Marco Polo del Nero nem em sonho pensavam em Ney Franco na Seleção principal.
Se houver a necessidade de troca, Muricy, Felipão e até Tite estão na frente dele.
Foi quando Juvenal Juvêncio procurou o presidente da CBF para conversar.
O presidente do São Paulo já havia fracassado na tentativa de buscar o português André Villas Boas.
Ele queria um treinador barato e que soubesse trabalhar com as categorias de base.
Ao contrário de Leão, tivesse muito conhecimento tático e trabalhasse bem com os garotos.
Formasse atletas para deixar o time forte e gerar lucro com vendas para o Exterior.
Juvenal falou para Marin que estava pensando em Ney Franco.
O presidente da CBF só faltou dar um beijo nas bochechas sempre vermelhas do presidente do São Paulo.
Fez questão de não só liberar o treinador a conversar com a cúpula do time paulista.
Como recomendou pessoalmente para Ney Franco que ele deveria aceitar.
Esperto, o treinador percebeu o que estava acontecendo.
Ele não era mais desejado na CBF.
Sua presença competente incomodava Mano Menezes e Marin.
Fez questão apenas de assinar um contrato longo, até dezembro de 2013.
Até o final deste ano receberá R$ 220 mil.
Mais bônus em caso de título brasileiro ou classificação para a Libertadores.
Em 2013, seu salário vai pular para R$ 300 mil.
Todo os projetos para as categorias de base do Brasil foram abandonados.
O coordenador pediu demissão com a bênção de Marin.
O diretor de Seleções, Andrés Sanches, ficou irritadíssimo.
Só soube da situação pela imprensa.
Marin nem se deu ao trabalho de avisá-lo.
Resumo da ópera: a cúpula da CBF comemorou mais do que a direção do São Paulo.
Ney Franco deixou os garotos do Brasil por sua competência.
Se a Seleção fracassar em Londres, ninguém vai poder dizer que o cargo deveria ser de Ney Franco.
Ele já não está mais na entidade.
Para todos os efeitos, pediu demissão.
Carta política perfeita de José Maria Marin.Não só blindou a CBF como ajudou seu clube de coração...
Fonte: Cosme Rímoli