quinta-feira, 4 de abril de 2013

Técnico boliviano mira eliminação do São Paulo e polemiza por altitude


Eduardo Villegas já fez estágio com Felipão, duas vezes campeão da Libertadores e de quem tenta buscar inspiração Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
No Complexo Esportivo de Achuman, onde se concentra o atual tricampeão boliviano, Eduardo Villegas tenta dormir após o almoço de quarta-feira, mas há algo que perturba seu sono. Encontrar meios do Strongest vencer o São Paulo nesta quinta, saltar à vice-liderança de seu grupo na Copa Libertadores e tentar avançar para o mata-mata. Talvez pela intranquilidade, o atencioso Villegas, principal treinador da atualidade na Bolívia, não se incomoda em deixar o quarto para uma entrevista exclusiva aoTerra
Ex-jogador e com quatro títulos nacionais por equipes diferentes em sete anos de carreira, Villegas se expressa de modo pausado, claro e franco. Foi ele quem declarou que Paulo Henrique Ganso é "muito lento" e sugeriu que o Strongest não oferecesse água a Ronaldinho. Em solo boliviano, tem um ponto de vista firme sobre a interferência da altitude no futebol e cobra a polícia local pela morte de Kevin Espada, em Oruro, em fevereiro. 
Com passagem de forma interina pela seleção boliviana, Eduardo Villegas, 49 anos, é o primeiro tricampeão da história do futebol profissional na Bolívia em 45 anos. O Strongest levou três títulos consecutivos inéditos, o último com Villegas, cuja projeção futura passa pelo resultado desta quinta-feira no Estádio Hernando Siles, em La Paz. Ele, que fez estágio com Luiz Felipe Scolari no Palmeiras, em 2011, tentará reencontrar o amigo no sábado, em Santa Cruz de la Sierra, com a Seleção. Quer dicas para tentar seguir carreira internacional. 
Confira a entrevista exclusiva com Eduardo Villegas na íntegra:
Terra – Como esse jogo é encarado pelo Strongest? E o que mais se destaca no São Paulo?
Eduardo Villegas – A expectativa é enorme porque é uma partida decisiva para nossas ambições. Ganhando, seguiremos com chances até o final da série, e obviamente perdendo ficamos eliminados. Queremos repetir a boa atuação que tivemos no Brasil, mas, além disso, conseguir o resultado favorável. No São Paulo há um conjunto de muita qualidade, jogadores experimentados. Com a ausência de Luís Fabiano, Aloísio e Jadson podem ser os mais importantes no ataque.
Terra – O São Paulo vem de clássico contra o Corinthians no último domingo e já tem mais de 20 partidas no ano. Já o Strongest poupou oito titulares no fim de semana e tem a altitude a favor. A parte física pode definir o jogo?
Villegas
 – Descansar alguns titulares teria de haver efeito positivo, porque nossos jogadores vêm de compromissos intensos. Talvez com menos jogos. Tivemos que cuidar para ter uma produção física mais importante na partida, e assim também ressaltar todo o talento que têm nossos jogadores.
Terra – O que há de mais especial no Strongest para ser tricampeão boliviano?
Villegas –
 A ideia futebolística que tivemos para ser tricampeões é clara. É a ideia que eu tinha e assim logramos o tricampeonato. Já pudemos expressar um pouco disso na Libertadores, mas os resultados não ajudaram.
Ninguém morreu por jogar futebol ou praticar esporte na altitude
Eduardo Villegassobre partidas em La Paz
Terra – Depois de três títulos, uma grande Libertadores passa a ser o principal objetivo?
Villegas –
 Sim. Dizíamos que passar para a fase seguinte deveria ser um ponto importante para ressaltar mais o tricampeonato. Esperamos poder lograr isso, vamos colocar todo nosso esforço para isso.
Terra – O sorteio não foi muito generoso para o Strongest, não? Enfrentar duas equipes brasileiras fortes e o Arsenal, da Argentina, já na fase de grupos, não deveria estar nos planos.
Villegas –
 Sim, nos perguntamos se é o ideal ou correto ter São Paulo e Atlético-MG, que está muito forte, e o Arsenal. Mas dissemos que nos parece bom no sentido de que, enfrentar essas equipes, eleva o nosso nível futebolístico para depois atuar na Bolívia. E se pudermos passar na fase seguinte, teria um mérito maior, pois enfrentamos grandes equipes da América.
Terra – Atlético-MG é o líder do grupo com um grande desempenho. Como vê essa equipe?
Villegas –
 Nos surpreendeu gratamente. É uma equipe forte, taticamente bem estruturada e um pouco baseada no jogo que tem Ronaldinho, que faz todos jogarem. O talento que tem obviamente se manifesta muito bem com o resto dos jogadores.
Terra – Sempre que uma equipe brasileira vem até a Bolívia ou a Quito, o tema altitude vem à tona. Há mais radicais que, no Brasil, defendem que não possa se jogar em La Paz. Qual sua opinião sobre o tema?
Villegas –
 Primeiro tenho que dizer que aqui vivem mais de 10 milhões de habitantes. Nascemos aqui e creio que merecemos jogar aqui. Ninguém morreu por jogar futebol ou praticar esporte na altitude. Morre muita gente no nível do mar por excesso de temperatura. Nunca ganhamos uma partida por altitude. Os atletas bem preparados podem perfeitamente responder na altitude.
Terra – Mas há uma queda de desempenho para quem não está acostumado, não? É algo inevitável a seu ver?
Villegas -
 Quiçá se abaixe 20%, como também conosco no nível do mar, pois abaixamos 20% de nossa produção. Para ambos os lados, tem suas mudanças, o inconveniente da adaptação. Mas aqui há equipes que vieram e jogaram muito bem. O mesmo São Paulo, com Raí e companhia, com Telê Santana, ganharam em Oruro, em La Paz e foram campeões sul-americanos e mundiais.
Terra – A seleção boliviana está praticamente fora da Copa 2014 e não se nota qualquer tipo de evolução. Como, por exemplo, com a Venezuela. Por que a Bolívia não consegue crescer?
Villegas – 
A equipe caiu muito por não fazer um processo de longo prazo com os jogadores jovens. Pode se queimar uma Eliminatória com isso, mas se vai preparar para competir internacionalmente. E depois, que jogadores como Chumacero, possam emigrar para a Europa, México ou Arábia e buscar um melhor nível internacional para expressar na seleção. Nosso nível local é muito baixo. Propus um processo à Federação Boliviana, de trabalhar até 2014, de preparar os menores de 23 anos. E que depois possam ter a chance de classificar a 2018.
Chumacero, com 21 anos, é o principal jogador da equipe boliviana Foto: EFE
Chumacero, com 21 anos, é o principal jogador da equipe boliviana
Foto: EFE
Terra – Há uma comoção nacional muito grande pela morte de Kevin Espada, e no Brasil se discute a situação dos 12 torcedores ainda presos. Como o senhor vê o caso?
Villegas –
 Primeiro que foi um acidente lamentável. Há grande responsabilidade da polícia nesta ordem em deixar ingressar os sinalizadores. O que sucedeu é muito lamentável, sofremos todos, mas nada pode colocar em dúvida a unidade que gera jogar o futebol e a Copa Libertadores. Isso tudo se criou para a unidade dos povos, para melhorar, e nos tocou todos bolivianos. Nós queremos uma imagem boa de tudo que fazemos para o mundo, mas sucedeu isso. O povo boliviano não tem nada de vingança para outros povos, foi um acidente que precisa ser superado.
Terra – Quais suas grandes ambições para o futuro?
Villegas -
 Temos ido bem na Bolívia. Conseguimos quatro títulos com quatro equipes, dirigimos a seleção interinamente e nossa intenção, no futuro, é voltar a dirigir a seleção. Um objetivo agora é tentar dirigir fora do país, na América do Sul, não sei, onde haja oportunidade. Trabalhamos nisso, de tentar nos mudar para mostrar a capacidade dos treinadores bolivianos.

Fonte :Terra
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