quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Filho de Pedro Rocha agradece ao São Paulo mas pede homenagem em vida


Pedro Virgilio Rocha Franchetti comemora 70 anos no dia 3 de dezembro. Não haverá festas. Não há motivo. A mulher, os três filhos e os netos estarão ao seu lado, na cama, de onde não sai mais. O Verdugo, um dos jogadores que mais bem resumiu a mistura de força e técnica, já não anda, já não fala e enxerga mal.
A família, de forma polida mas firme, desencoraja visitas. Não queremos chocar ninguém que conheceu o meu pai como um grande campeão. O choque é grande, a gente reconhece”´, diz Gonçalo, 38 anos, um dos filhos.
Um dos maiores jogadores da história do São Paulo (113 gols em 375 jogos) e do Peñarol (81 gols em 159 jogos) Pedro teve artofia do mesaencéfalo, doença irreversível e que não admite sonhos. “Nem com um transplante a gente pode contar porque não há muitos estudos de células troncos nesses casos”, lamenta Gonçalo.
A comunicação é feita com sinais. O dedo polegar direito foi levantado em sinal de aprovação quando soube que Ganso havia sido contratado. “Agora, a gente nem fala muita coisa mais. O São Paulo é o time dele e ele se emociona muito. Meu pai está consciente de tudo, e isso é pior É um sofrimento muito grande”.
Há três anos, quando visitei Pedro Rocha para lhe levar o livro “Tricolor Celeste”, ele ficava em uma cadeira e tinha uma certa dificuldade para andar. Via futebol o dia inteiro e se disse fã de Ganso e de Gerrard. Disse que jogava parecido com o inglês.
Conversei com pessoas que o viram jogar e todos disseram que foi uma acesso de modéstia. Pedro foi melhor, bem melhor que Gerrard. No meu livro “Tricolor Celeste”, Pablo Forlán, pai de Diego Forlán, assim definiu Rocha.
“É o maior jogador uruguaio dos últimos 50 anos. Vou dizer como ele jogava”
1 – Caminhava com a bola, pelo meio, e lançava o centroavante, continuando a correr. Quando recebia a bola, tinha facilidade em marcar
2 – Tocava para um dos pontas e corria para a área. A defesa se preocupava com o centroavante e era ele quem cabeceava
3 – Quando não havia a possibilidade do passe, ele segurava a bola, chegava perto e chutava muito forte, de 30 metros de distancia. De esquerda ou de direita, como no final da Copa América de 67, quando fomos campeões.
4 – Se o ponta esquerda sofria uma falta, Rocha cobrava com o pé direito no canto esquerdo do goleiro.
Com esse repertório, jogou quatro copas do mundo pelo uruguai, de 1962 a 1974. Em seu grande momento, 1970, contundiu-se no primeiro jogo e ficou de fora. O Uruguai foi quarto.
Gonçalo elogia a ajuda do São Paulo, mas pede um pouco mais. Mais amor. “O São Paulo poderia fazer um jogo de despedida para meu pai. Reunir velhos amigos, fazer uma festa para ele ser lembrado uma vez mais. É bom ser lembrado em vida e não depois”
Um jogo beneficente? “Pode ser, o dinheiro seria muito bem aplicado, mas o bom seria mesmo pela emoção de se dizer obrigado a um craque como meu pai foi”.
Pedro Rocha vive com uma aposentadoria de R$ 1800 mensais. A família gasta o dobro disso com remédios. “Os remédios são caros, as fraldas geriátricas também. Uma vez por semna uma enfermeira vem trocar a sonda e isso custa R$ 200″, lamenta Gonçalo.
A ajuda do São Paulo é grande, segundo ele. “Não temos o que reclamar. O clube paga a cuidadora, paga a fono e a fisioterapia, ele faz uma hora por dia de cada um. A gente passaria mais dificuldades sem o São Paulo, mas eu repito, se o clube fizesse um jogo beneficente para ele, seira uma alegria para o velho”
No dia 15 de dezembro, a Reebok acertará com a família de Rocha o que é devido pela primeira leva de camisas tricolores e celestes que homenagearam os quatro grandes uruguaios – Rocha, Forlán, Lugano e Dario Pereyra – e a família está ansiosa. “Soubemos que as vendas foram muito boas. Eles vão nos pagar 10%, podemos arrecadar um dinheiro necessário para cuidar bem do pai”, diz o filho Gonçalo.
Quando um craque chega ao ocaso em dificuldades, é lugar-comum acusações de que a decadência financeira veio a reboque de lindas mulheres e velozes cavalos. E carros. Quando pergunto a Gonçalo, ele sorri, com tristeza e diz que com o Verdugo nada disso aconteceu.
“Pergunte a Muricy, que conviveu com ele. Sempre fez questão de dizer que meu pai sempre foi um grande homem. O que aconteceu foi que Pedro Rocha foi o primeiro a abir um bingo no Brasil, em 1994. Teve investidores espanhois com ele. Só que os caras fugiram e o bingo faliu, ou o contrário nem sei mais. Papai tinha muitos imóveis e teve de vender vários deles para pagar as ações trabalhistas que sobraram para ele. Honrou tudo. E ficou sem quase nada”
No “Tricolor Celeste”, Muricy deu seu depoimento sobre Pedro Rocha:
“Ele era muito educado, um cara diferente no futebol. Caladão, não era de muita brincadeira e gostava muito de jogar sinuca. Era invencível, tinha uma precisão para defender e atacar, até parecia que estava jogando futebol. Para ficar perto dele, comecei a jogar sinuca também. Melhorei muito mas nunca consegui vencer Pedro Rocha. Mas estava ali, perto dele. Era a prova de que estava vencendo na vida. O cara era um gênio da bola”
Muricy nunca venceu Rocha. Os zagueiros o temiam. Gerson, o grande craque brasilieor que o ofuscou no primeiro ano juntos, em 1971, nem teve sua saída lamentada depois que Rocha começou a brilhar sozinho.
Ninguém venceu Pedro Rocha.
A atrofia do mesaencéfalo, sim. Apesar da resistência do velho craque, a derrota é certa
 
Fonte: Blog  do Menon
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