"O São Paulo poderia ter Lugano e não Lúcio.
Um jogador quase três anos mais novo.
Era só negociar.
Mas o Juvenal não gosta de trazer de volta ídolos.
Ainda mais aqueles que não pode controlar."
" O Corinthians está se modernizando.
Aprendeu com o São Paulo como se faz.
Nós ensinamos.
Clube grande tem de ter estádio, CT, CT para a base.
E os corintianos estão aprendendo.
Tanto que conseguiram finalmente o passaporte internacional.
Ganhou um Mundial, nós temos três.
Mas não vamos esquecer que o passaporte já chegou carimbado.
Pelos reservas do São Paulo, na derrota antes do embarque para o Japão."
O vereador e ex-gerente de futebol Marco Aurélio Cunha continua o mesmo.
Com muita influência nos bastidores do Morumbi.
Rompeu politicamente com Juvenal depois da reforma nos estatutos.
O que permitiu o terceiro mandato consecutivo do presidente.
De quem foi genro, inclusive.
Ele se afastou da diretoria, mas continua ligado demais aos jogadores.
Que estão e os que saíram do clube.
Kaká, Lugano, Luís Fabiano, Rogério Ceni são seus amigos pessoais.
Conselheiro, acompanha de perto tudo o que acontece no São Paulo.
Vereador acompanha politicamente os milhões movimentados pela Copa no Brasil.
Brigou contra a isenção de R$ 420 milhões para o Itaquerão.
Adora provocar o rival em qualquer entrevista.
Nesta ele mistura seriedade ao falar de Lugano, Libertadores, Tigre.
Exercita sua ironia ao parabenizar o título mundial do Corinthians...
Marco, de forma direta, o São Paulo poderia ter Lugano?
E preferiu Lúcio?
Os dirigentes escolheram um jogador quase três anos mais velho, que
vai fazer 35 anos. Sei que haveria sim a possibilidade real do Lugano
voltar. Ele está afastado no Paris Saint Germain. O Juvenal tinha plena
consciência disso. Só que preferiu ouvir outras pessoas e investir no
Lúcio. Zagueiro, por sinal, que o próprio presidente havia dito que não
contrataria no passado por ser muito religioso. E poderia influenciar os
garotos do time. Há uma certa preocupação no clube com os atletas que
são profundamente evangélicos. Mas com o Juvenal Juvêncio o que vale
ontem, não vale hoje. Ele é imediatista demais. E fechou com o Lúcio. O
clube tinha no planejamento a contratação de apenas um zagueiro caro e
mais vivido. As portas ficaram fechadas para o Lugano. Uma pena, um
desperdício.
O Juvenal não gosta de recontratar ídolos?
Não. Ele usa como exemplo o Cicinho, que não deu certo. Mas isso é
uma desculpa. Em relação ao Lugano, se ele voltasse, não haveria como
não relacioná-lo com a diretoria do [falecido] presidente Marcelo
Portugal Gouvea. Situações que o Juvenal quis evitar. Além do que é o
uruguaio é um jogador de muita personalidade. Não é fácil de comandar.
Em relação aos ídolos, Juvenal não se esforça mesmo. O Danilo queria
voltar ao Brasil e o primeiro clube que procurou foi o São Paulo. O
presidente disse que era muito caro e ele fez o que fez pelo
Corinthians. O Luís Fabiano agora e, muito provavelmente, o Kaká no
futuro têm explicação simples. A falta de conquistas individuais dos
dois no clube. Qualquer título, como essa Sul-Americana é um diferencial
a favor da administração Juvenal. Agora, retornar com o Lugano, que
saiu campeão do mundo, se trata de uma história diferente. O patamar de
comparação é outro. Qualquer coisa menos do que outro título mundial
poderia ser visto como uma derrota.
Para onde Lugano vai?
Com a desistência do São Paulo, ele está negociando. Não ficará no
Paris Saint Germain. As conversas com o Grêmio foram da gestão do Paulo
Odone. O América do México ofereceu um contrato em branco ao zagueiro,
para que ele colocasse preço. E também há o interesse forte de um clube
pequeno inglês. O Lugano ainda não decidiu. Mas, repito, haveria sim a
chance de retorno ao Morumbi. Só que Juvenal preferiu nem tentar.
Você sabe tudo de bastidores do São Paulo.
O que aconteceu de verdade na briga com o Tigre?
Me faltam alguns detalhes, lógico. Mas só vou dizer que o São Paulo
estava 80% certo. Errou em incentivar o clima bélico com uma equipe sem
tradição alguma no futebol internacional. Bobagem como reconhecimento de
campo, se aquecer no gramado. Bobagens que acabaram só criando um clima
insustentável de conflito. O São Paulo entrou no clima de guerra porque
ficou algum tempo longe da Libertadores. Não conseguiu classificação e
se esqueceu de detalhes importantes. Entrou em provocações; brigas
quando deveria apenas ter goleado o Tigre e fazer a festa como campeão.
Mas teve gente que se inflamou e que quis se impor. Ficou uma situação
lamentável. E que não combina com a história do São Paulo. Nosso clube
foi e sempre será campeão jogando futebol.
Muito se fala que o Corinthians era protegido por Ricardo Teixeira.
E tinha até a influência do Lula em tudo que acontecia.
Até na construção do Itaquerão.
Agora chegou a vez do São Paulo se aproveitar?
Com o Marin na CBF?
Olha, o Corinthians soube usar sua força política no futebol até
pouco tempo. Mérito dos seus dirigentes. Do Itaquerão não quero nem
falar. Já briguei muito. Mas o São Paulo não vai se aproveitar tanto do
Marin na CBF. Pelo simples motivo que ele é político profissional. Quer
agradar todo mundo e não ficar mal com ninguém. O Ricardo Teixeira não
era assim. Embora a ligação do Marin com o São Paulo é grande, não
haverá privilégio. Ele não vai se indispor com os outros. Ele é muito
inteligente para isso. A grande diferença é que antes, com o Ricardo
Teixeira, o São Paulo era excluído. Hoje o clube está incluído nas
decisões mais importantes do futebol brasileiro. É ouvido. Isso é um
mérito. Mas não terá o que outras equipes tiveram na administração
passada da CBF.
Como você analisa a queda do Palmeiras?
O segundo rebaixamento em dez anos?
Mostra o que acontece quando um clube é conturbado internamente. Com
as divisões não deixando ninguém trabalhar. É muito ruim para a história
do Palmeiras, de tantas conquistas. Ele foi capaz de cair depois de
ganhar a Copa do Brasil. E com o treinador da Seleção Brasileira na Copa
de 2014. Precisa se reestruturar. Acredito na força do Palmeiras. Vai
subir de novo em 2013. Mesmo se a diretoria continuar dividida, a
torcida empurra. O Palmeiras terá quatro chances. Quatro vão subir da B.
Não é possível que os dirigentes não consigam uma vaga. Não é possível.
O que você tem para falar da conquista do Mundial do Corinthians?
O Corinthians está se modernizando. Aprendeu com o São Paulo como se
faz. Nós ensinamos. Clube grande tem de ter estádio, CT, CT para a base.
E os corintianos estão aprendendo. Tanto que conseguiram finalmente o
passaporte internacional. Ganhou um Mundial, nós temos três. Mas não
vamos esquecer que o passaporte já chegou carimbado. Pelos reservas do
São Paulo, na derrota antes do embarque para o Japão. Fiquei contente
que não houve pênaltis, ganharam sem lances contestados. Foi ótimo.
Assim como o São Paulo costuma fazer quando é campeão. Estão no caminho.
O São Paulo mostrou como se faz.
O que você acha do patrocínio da Caixa ao Corinthians?
É uma situação justa?
Mérito das ligações políticas que o clube tem. Mas um absurdo para os
outros clubes. A Caixa Econômica Federal é um banco de parte do seu
capital estatal. Ou ajuda todos ou não ajuda ninguém. Mas no nosso país,
as ligações das pessoas são muito importantes e prevalecem em situações
que não deveriam. Como no caso da Petrobrás que ajudou o Flamengo, a
Eletrobrás o Vasco. E agora, a Caixa Econômica com o Corinthians. Não
posso concordar nunca com esse patrocínio. Só reconheço o mérito das
alianças corintianas. Assim tudo fica mais fácil.
Ao que você atribui esse progresso corintiano?
Não tenho a menor dúvida. Tudo se deve à passagem do Ronaldo no
Parque São Jorge. Ele abriu os olhos dos dirigentes sobre tudo o que um
clube grande deveria ser feito. Para a rede de relacionamentos. Teve
espaço como ídolo de futebol. Como o Pelé já fez por um período no
Santos. Como o Neymar tem tudo para fazer. O São Paulo precisa estar
aberto aos ídolos internacionais, não pode ficar nas mãos apenas de
dirigentes. A minha esperança é que o Rogério Ceni, quando parar,
revolucione, modernize muita coisa no Morumbi que está estagnada.
Voltando ao Corinthians, o clube soube usar bem demais Ronaldo. E está
colhendo os frutos até hoje. Como o Mundial, estádio, modernização. Se
ele não tivesse jogado lá, tudo estaria da maneira atrasada com que era
conduzido o clube. Os dirigentes brasileiros precisam de um choque de
modernidade. O Corinthians teve o dele. Agora acaba virando exemplo para
os outros, que seguem com presidentes por anos e anos. E não saem do
lugar.
Fonte: Cosme Rimoli
0 comentários:
Postar um comentário